Saturday, March 12, 2005

Eu confesso a minha completa perdição pela obra "Mensagem" de Fernando Pessoa! A sua capacidade mobilizadora, a sua genial criatividade, a sua forma de me criar arrepios, satisfazem-me completamente a alma. Quem me dera conhecer tal homem!
Apresento neste post, um poema sobre os obstáculos e a coragem que os enfrentam. A meu ver, dos mais bonitos que já li!

O Mostrengo

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: "Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?"
E o homem do leme disse, tremendo:
"El-Rei D. João Segundo!"

"De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?"
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
"Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?"
E o homem do leme tremeu, e disse:
"El-Rei D. João Segundo!"

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
"Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!"

1 Comments:

Blogger Pedro Mendes said...

Mas o conteudo da "Mensagem" é mais espiritual e positivo. Nos Lusíadas à uma quebra depois de toda aquela exaltação. A "Mensagem" no fim mostra-nos que é possível mudar!

7:01 AM  

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