Desabafo das saudades
Queria eu fazer o que tenho a fazer mas distraio-me tanto com tudo o que me rodeia porque tudo o que me rodeia faz-me lembrar quem eu gosto. Os livros que tenho à frente que tu viste, o computador que uso para matar saudades, as mãos que escrevem que te tocam, o corpo em que respiro que é teu, as canetas que usamos para escrever ternura e "pétalas negras ardem..." mesmo por baixo a incendiar-me a alma. Até queria eu deixar de fumar não fosse o fumo fazer as formas do teu corpo, o cigarro entre os meus dedos como tu os seguras e o maço de tabaco igual ao que tu compras.
E o trabalho que faço chama-se Plano Operacional. Como operacional? Como fazê-lo funcionar bem sem ti? Apetece-me pôr para cada proposta de acção para o estágio sempre o mesmo final: Só funciona direito se tiver a ternura comigo.
E portanto, tentei abstrair-me. Mas se me abstraio olho para dentro, olho para mim, e olho para o quanto eu gosto de ti e sinto o coração a bater, o cérebro a pensar, as veias cheias de sangue quente, os músculos a latejar, os órgãos a distender e a contrair e tudo a funcionar numa harmonia selvagem, numa calma violenta, numa espera desesperante.
E se dou uma volta pela casa procuro réstias do teu perfume onde tu te sentaste, andaste e dormiste, ou procuro marcas do teu ser nos cobertores, panos, pratos, copos, talheres, ou vejo-me ao espelho e procuro o que me deixaste nos lábios, na cara, no pescoço, no corpo... e tudo em que tocaste ou viste passa a ser uma relíquia.
Tudo o que me rodeia transpira a ti como se ainda por cá andasses e ainda assim quero mais.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home